segunda-feira, junho 13, 2005

Consultório: será raiva

Senhor doutor veterinário,

Pela primeira vez em toda a minha existência um cão mordeu- me... e como estou surpreendida!!! Aliás, ainda não consegui repousar o sobrolho no seu estado normal arqueado... há 2 dias que ando de sobrancelha franzida em perfeita condição de vigilância.

Um meia- leca que conheço para lá de 7 anos teve a audácia de me trincar descaradamente e não contente, ainda ficou amuado depois de levar valente safanão dirigido ao seu corpo pequeno e gordo, mas afinal quem é que manda cá em casa?

O jantar era familiar e não estavam convidados elementos caninos (os outros 2 tinham ficado do lado de fora... a matilha lá de casa é constituída por 3: o meia- leca, a nusca e o meu fiel pastor) mas o "piqueno" cheio de maus vícios lá conseguiu furar a segurança entrando no perímetro que lhe estava vedado... mais um dos seus vis actos de libertinagem!

Tudo corria bem enquanto se limitou a ficar refastelado na poltrona mas "cavou o seu buraco" ou melhor, talhou o seu caminho para a saída quando decidiu importunar os demais presentes mendigando no seu jeito canino pedaços de comida! Sabemos que abunda o colesterol naquele corpinho e já havíamos decidido não lhe dar restos à mesa... não é que ele tivesse fome, era somente vontade de comer...

Alguns dos convidados ainda cederam à chantagem emocional do meia- leca... como só ele sabe fazer... deve ser a cara 39, a de coitadinho que aplica como máscara na presença de humanos... enruga a testa, as orelhitas para trás (parece que usa fitinha para as segurar) e os olhinhos pequenos fitando a comida! Quem é que resiste àquela cara?

Só quem já lhe conhece as manhas não se deixa levar no enredo... como eu! Tocou- me a mim a tarefa de o expulsar para o lado de fora, para junto dos seus amigos de 4 patas! Foi neste preciso momento em que o pegava pela coleira que senti os seus dentinhos afiados a perfurar a minha carne tenra!

Os instantes seguintes foram de sofrimento para os 2... vem de lá o meu defensor de forma assaz furiosa e aufere- lhe um rude golpe que o devolve à sua pequenez canina! Pegando- o ao nível do rosto e olhando- o olhos nos olhos, mostra- lhe o caminho... estás na rua!

Não foram os seus dentinhos afiados que me magoram na pele... foram os seus olhos negros envoltos em ódio que me feriram! Sempre defendi os canitos e me compadeci dos seus problemas mas este episódio foi a gota de água no copo cheio.

Nunca confiei muito no meia- leca... sempre soube que era um interesseiro! Um espécime que distribui lambidelas sempre que fareja comida por perto não podia ser de fiar... nesse mesmo dia escolhi os melhores ossos para o fiel pastor e sua amiga nusca que se deliciaram com a brincadeira... para o meia- leca deixei os restantes e depositei- os friamente na sua malga, enquanto proferia palavras tristes e zangadas, que estou certa de ele ter percebido!

A minha dúvida, senhor doutor veterinário, é a seguinte: qual de nós terá raiva?

1 comentário:

RR disse...

Como trabalhei durante ano e meio numa clínica veterinária e, inclusivamente, fiz de assistente de veterinário umas quantas vezes, já tenho alguma experiência na matéria!!!
Receita: 2 Rabisin (uma hoje e um reforço daqui e quinze dias) e um Frontline (para as pulgas que fazem ferver em pouca água). Se necessário, há umas coleiras que emitem choques de baixa voltagem, para quando se emite sons com um volume maior.
Para o cão, umas festas e isso passa!