terça-feira, junho 28, 2005

Casquinha d'ovo

Já que estamos numa de mottards e Verão e tal (e tal, principalmente)... é inevitável falar também da relação pacifíca, entre o mottard e o seu capacete também conhecido carinhosamente por casco, carolo e outros...

O capacete está para o mottard como o cão está para o homem... o seu melhor amigo (reconheço que neste caso a comparação é um pouco infeliz porque é certo e sabido que os cães têm o hábito bizarro de correr atrás das motas, chegando mesmo a trincar umas canelas... mas perceberam a ideia, certo?) Assim sendo o capacete é cuidado criteriosamente pelo dono, pelo menos enquanto é novo ou ainda não tem mazelas... este período é, regra geral, muito curto pois parece existir uma atracção fatal entre o casco e qualquer superfície capaz de riscar a pintura ou mesmo de lhe arrancar um pedaço... daí a afável expressão casquinha d'ovo!!!

A aventura começa logo no momento da escolha... quando pegamos no exemplar para ver de perto e experimentar e não tendo noção exacta do seu peso, de imediato o arremessamos contra a prateleira de cima (já está baptizado)... mas não há problema, ninguém viu e ainda não pagámos nada, logo... tiramos outro!

A escolha é de extrema importância dado que há vários factores a considerar e aposto que nunca tinham pensado nisto a valer... desde o modelo, passando pelo peso, pela narigueira, pela viseira, pelo tamanho, pela fivela, pelas entradas de ar e claro acabando no esquema de cores: branco ou preto dá com tudo mas umas cores garridas ficam sempre bem!

A tarefa é penosa mas obrigatória. Depois de muito experimentar e note- se que "quem muito escolhe, pouco acerta" lá encontramos o espécime que vai bem connosco... saímos da loja muito satisfeitos, com menos umas dezenas de contos no bolso mas, acima de tudo, muito protegidos: "Deus nos livre de cair e de riscar a pintura"!

Os dias que se seguem são de profunda tensão e desgaste... andar sempre com o saco do capacete para o guardar religiosamente assim que estacionamos o motociclo e evitar, a todo o custo, encontros imediatos com o alcatrão e as paredes!

Um belo dia, já enfadados por andar com o saco sempre atrás e os amigos sempre a mangar com tantos cuidados com o casquinha d'ovo, enchemo- nos de coragem e valentia e deixamos o saco protector em casa... "Sou um bravo, não levo o saco" esboçando um sorriso rasgado que permite ver se já nasceu o dente do siso, ou não!

É neste dia trágico que começa o fim da vida de lord do carolo... ao arrumá- lo, apesar de todos cuidados, encostamo- lo demais à parede rugosa e àspera. Algo de muito malvado se vai passar...

No momento de arrancar e já estando a mota aquecer, aproveitamos para inspeccionar o carolo antes de o colocar... nesse momento rigoroso de afectividade durante o qual não admitimos qualquer tipo de interactividade com o exterior, avistamos os riscos... inconsolável... é este o estado de espírito de quem passa por uma experiência assaz traumática, como esta! Os amigos juntam- se à volta e entre risos lá vão tentando o impossível: animar o desgraçado relembrando os momentos em que passaram pelo mesmo com a desvantagem de o estrago ter sido abundantemente maior!

Não querendo dar parte de fracos, fingimos ter esquecido o sucedido... até ao momento em que nos encontramos a sós com o melhor amigo... passamos a pente fino toda a estrutura tentando avaliar a dimensão do acidente. É só um risquinho ou outro... nem se nota muito! As entradas de ar permanecem firmes e estrategicamente colocadas na sua missão de refrescar o cérebro, a narigueira está de pedra e cal... não há motivo para grandes preocupações (por enquanto...)!

Noutro dia igualmente belo decidimos ir até à praia... tudo corre bem, a viagem foi razoável (só uma discussão ou outra com um "bote" ou outro... enfim não se chegaram a partir espelhos!) e preparamo- nos para avançar em direcção ao areal, não sem antes colocar o cadeado na motoreta... é aqui que entra a banda sonora do tubarão... vem uma brisa do mar (trá lá lá, lá lá lá) um pouco mais forte e arejada do que o esperado e tomba o casquinha do banco da mota... por incrível que pareça, e entre tanta areia fofa, consegue acertar no único calhau vísivel num raio de vários metros! É neste instante que as faces ficam rubras, sentimos um turbilhão, uma corrente de ar que nos abana da ponta do dedo mindinho à ponta espigada do cabelo... avançamos rapidamente na direcção do carolo: "Meu lindo, meu fofo... seus maus, olha só o que te fizeram!" Pegamos nele e salta um pedaço da pintura, confirmam- se as piores suspeitas!

Bem, a vida continua... e lá seguimos desgostosos de toalha ao ombro e capacete ao peito (como que a confortá- lo pelo sucedido)! Um azar nunca vem só... e uma rabanada de vento também não... depois da queda livre do banco da mota, é exibido o 2º filme da saga "Casquinha d'ovo": O tornado II", nesta película uma rajada de vento enche de areia todo o interior do capacete... já no 3º filme " Querida, encolhi o capacete (com o chichi do cão)" a sinopse revela que depois da areia no interior do casquinha, um quadrúpede alça a pata tentando marcar como seu, o território do protagonista. O que acontece no final do episódio? Não é que pensam... ter azar é o casco cair e encher- se de areia, um cão "orinar" lá para dentro é pior do que azar, é castigo divino!

Depois desta passagem cinematográfica pela vida artística do casco, regressamos ao futuro (hehe não resisti a mais um...) onde a realidade é uma, e só uma (não são duas nem três, é só uma e "prontos"): Todo o mottard sabe que a sua vida pode depender ( e como!) de um capacete, e se assim é, porque não escolher logo um dos bons?
Sendo bom, é caro,
sendo caro custa a pagar,
custando a pagar obriga a estimar,
obrigando a estimar temos que usar o saco para o transpostar,
tendo que usar o saco para o transportar os amigos vão gozar,
os amigos gozando deixamos o saco em casa,
deixando o saco em casa... já sabem o fim da história, né...

Resumindo e baralhando,
Moral da história: A relação entre o mottard e o seu capacete é das melhores, passam imenso tempo juntos num estádio de grande proximidade. O mottard tem imenso cuidado com o casco até ao dia em que o deixe cair pela primeira vez...


NB: Não levem em consideração este post... apanhei com uma forte machadada de parvoíce enquanto o escrevia!

2 comentários:

RR disse...

Mottard que é mottard, quando vê que vai cair, tira o carolo enquanto está todo no ar, e protege-o... Nem que isso signifique fazer uns risquinhos na cabecinha!

subarrios disse...

Toda esta preocupação, quase doentia, que os motards possuem com os seus carolos, atenua com as primeiras "quincadas", mas nunca desaparece totalmente...