domingo, julho 24, 2005

Sim, sr agente!

Cá estamos no prometido regresso aos escritos irracionais... confesso que tive que ponderar bastante até avançar com mais um recadinho destinado a cair em saco roto.

Ainda estou perplexa com a quantidade de agentes da autoridade (mais à frente terei oportunidade de os insultar, por enquanto mantenho as formalidades) que circulavam em direcção ao Algarve no fim de semana da concentração motard... fiquei com a sensação de que desciam das árvores e cheguei a vê- los sair do lodo junto à ilha de Faro! Diziam que o reforço policial se justificava pelo aumento de tráfego por entrarmos na 2ª quinzena de Julho... só não percebo o motivo pelo qual centenas de motards foram abordados pelas forças policiais como marginais ou terroristas; será que pensavam que transportávamos bombas nas mochilas e ficaram decepcionados ao verificar que eram apenas toalhas de praia e tendas de campismo?

Ainda estou para saber qual a razão que levou estas forças a bloquear a saída da auto- estrada após as portagens obrigando os motards a desligar as motas e a empurrá- las para a berma, tendo entretanto sido forçados a entregar a chave ao sr agente que contava com um forte poder dissuasor face a hipotéticas fugas: mais agentes munidos de poderosas metralhadoras apontadas aos pneus dos veículos! Muito bem... isto é respeito pelo cidadão!

Ainda estou para perceber o motivo pelo qual os senhores agentes que se encontravam na localidade de Mimosa se dirigiram aos motards encaminhando- os para as bermas como se estivessem a transportar gado!

Ainda estou para entender a razão que levou ao corte de trânsito na Ponte 25 de Abril no Domingo (último dia da concentração) só para os motards, claro!

Será porque os motards são uns inconformados que não estão dispostos a aturar certas manias de quem tem a mania que pode tudo? Será porque são os únicos que ainda conseguem gozar descaradamente nas suas barbas e barrigas flácidas quando avançam nas suas manobras e operações de caça à multa disfarçadas de prevenção da sinistralidade?

Na semana passada tivemos a confirmação dos próprios agentes relativamente à política de caça à multa... recorde- se de que avançaram com uma espécie de greve de zelo na qual se propuseram a não aplicar as tão desejadas multas (que permitem encaixar cerca de 62 mil euros/dia nos cofres do Estado) e a praticar uma acção pedagógica junto dos condutores... Confirmam- se as piores suspeitas que sempre tivémos acerca deste assunto!

Enfim... o que dizer perante tamanha barbárie? Já não basta levarem a cabo estas politiquices todo o ano como ainda as reforçam durante a maior concentração motard do país, uma das maiores do mundo que movimenta rios de dinheiro e convida milhares de motards a visitar o Algarve! O Banco Espírito Santo, patrocinador do evento, deve esfregar as mãos de contente com estas belas atitudes (tenho certeza de que não... tenho as minhas fontes! hehe), tal como os empreendimentos turísticos, os restaurantes, etc e tal!

Dizem as estatísticas que o número de presenças na concentração de Faro (que já leva 24 anos e já teve direito a livro de fotos: "Faro, uma viagem ao mundo dos motociclistas") tem vindo a aumentar, mas por este andar acredito que o sentido é de inversão e não de crescimento... pode ser que na altura alguém publique uma nova obra de fotos "Sim, sr agente" onde podemos ver um cordão de segurança à volta dos motards que aguardam pela verificação de documentos e aplicação da respectiva sanção (sim, porque há sempre uma... mesmo quando pensamos que está tudo em ordem!) antes de seguirem viagem até Faro.

Vá lá que no rescaldo nem tudo foi mau e há sempre algo que nos leva a querer regressar... o espírito esteve lá, sobretudo na noite de Sábado na ilha de Faro: um oásis no deserto rigorosamente vigiado pelos senhores agentes (nunca vi tanto bófia por metro quadrado!)... longas horas de "rateiradas" (nome técnico que designa que a explosão de ar e gasolina acontece fora do motor) com direito a melodias (o habitual vrum, vrum... vrum vrum vrum!), colectores incandescentes e cheiro a borracha queimada do pneu!

Quem nunca assistiu ao espectáculo estará agora a perguntar o que é que isto tem de interessante... é o espírito de fazer o proibido... milhares de motas juntas criam um ambiente de cores e contrastes num convívio pouco habitual entre os gabarolas que dão 300 e fazem 30 por uma linha, os que pensam que a mota é um moto-cultivador no meio do mato e os outros que não excedem os limites de velocidade e não cometem infracções ao código (pensam eles, pelo que tenho andado a investigar é quase impossível não infringir)!

É impressionante o número de pessoas que se junta naquele espaço criando uma moldura que não fica a dever nada aos estádios de futebol (tendo em conta as condições: empoleirados nos muros, nos terraços e varandas, às cavalitas uns dos outros, construindo autênticas bancadas humanas)... pena é este Portugal que só vive para o futebol (que também aprecio)... os nossos vizinhos espanhóis estão às dúzias nas competições motorizadas e nós, com este tempo magnífico, com adeptos e tantas condições para o desenvolvimento destas modalidades gastamos tudo no mesmo! A Fórmula 1 já não passa no Estoril, o mundial de rally também não vem a Portugal e qualquer dia o Moto GP deixa de vir... depois surgem estas manifestações espontâneas como as concentrações e cortam- nos as vazas a sangue frio!

Desabafos de quem esteve em Faro e assistiu à vergonhosa acção das forças policiais... excepção feita aos momentos em que se limitaram a orientar (e bem) o trânsito nos cruzamentos. Aí sim, estavam a prestar um serviço útil! (Já que apontamos os defeitos também temos que reconhecer as virtudes... aceito que fazem falta mas podiam ser um pouco mais benevolentes quando estamos a falar de um evento mítico!)

Para que fique registado: os motards não são anjinhos mas também não merecem este tipo de tratamento...

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