sábado, maio 21, 2005

O meu natural aspirado

Ficha técnica:
Já leva quase 200 000 Km...
Côr: branco sujo (já foi branco, em tempos... mas aborrece- me ter que o lavar e ouvi dizer que a porcaria protege a pintura);
Modelo: já não se fabrica;
Cilindrada: 1500 a puxar a 1000;
Potência: deve ser inferiror à declarada;
Nº reprovações na inspecção: 2 (no mesmo ano, à terceira foi de vez);
Nº de vezes que foi assaltado em 5 anos: 4 (Campo Grande, Lux, 24 Julho e à porta de casa);
Principal qualidade: gasta pouco (também curva bem, graças às Monroe Reflex);
Principal defeito: natural aspiração

É este o meu bólide... longas são as horas que passamos juntos no pára- arranca da Ponte 25 Abril, tantos os momentos de desespero que vivemos a ponto de nos tornarmos os melhores amigos (eu, o bólide e a máquina de lavar loiça- o trio maravilha, somos inseparáveis)!

Este é um sincero tributo ao meu natural aspirado e aos nossos momentos de intimidade... recordo- me daquelas ocasiões em que desço a Calçada de Carriche a uma velocidade vertiginosa (de tal forma que a estrada afunila) numa tentativa exasperada de embalar o bólide para a subida da radial. Tudo corre bem, os pneus chiam à 2ª curva e inclino a cabeça para a esquerda (para dar o efeito).

Avisto outra viatura na faixa do meio (aquela onde circulo porque é onde está a virtude) e de imediato me coloco ao "chupe" (termo picadinho que significa que vou no seu cone de ar pra evitar o atrito)... tento manter a velocidade, começo a ser impelida violentamente contra o banco... é o chegado o momento da ultrapassagem... acciono o sinal indicador de mudança de direcção para esquerda, olho pelo retrovisor... é agora... lentamente giro o volante (gasto do sol) para a esquerda... é a fase crucial, qualquer falha pode ser fatal na concretização do objectivo!

Perco o cone de ar... começo a perder velocidade escandalosamente... a situação é crítica, será que engatei a marcha atrás, por engano!? Abort Mission! Abort Mission! - o sinal avisador que pisca nos manómetros... aproxima- se a saída para Odivelas Norte... o condutor não gostou que eu o tentasse ultrapassar e agora nem "*#§+ nem sai de cima"... Macacos me mordam, exclamo irritada... vou ter que sair na próxima!!!

O condutor olha- me nos olhos com ar céptico, esboça um sorriso irónico e como que arranca novamente, deixando atrás de si um rasto cinzento de poluição! Ele tinha um TD...

Impetuosa reclamo colérica (exibindo efusivamente o dedo do meio), olho pelo retrovisor direito, acciono o sinal indicador de mudança de direcção para a direita, meto uma abaixo... entro na curva em 3ª, os pneumáticos chiam, a traseira cola- se ao alcatrão... o nó de saída está quase no fim, falta um curva para a direita... vou em 3ª às 3000 com o som frenético do motor a rugir e dos pneus a bramir! Está tudo a correr como esperava, preparo- me para desfazer a curva com um ar saciado e encontro a BT na berma... Cruzes canhoto, bradei.

Quanto vale ser menina e ter um bólide comercial, sorri como se nada se passasse e prossegui o meu caminho!

A *linha esteve comigo e com o meu bólide natural aspirado!

1 comentário:

RR disse...

Típico de gajedo ao volante... O quê?! Culpar os outros da m**** que provocam e inclinar a cabeça com as curvas!!! ;)