terça-feira, outubro 25, 2005

Inconfidências

Sou cada vez mais apologista de carros com vidros escuros, nem que para tal tenhamos que recorrer à pindérica película aderente!

Não há privacidade dentro do bólide... estamos no pára- arranca e temos a sorte de ao nosso lado seguir uma carrinha atulhada de senhores que lançam olhares indiscretos e constrangedores para o interior do nosso carro... paramos no semáforo e aproveitamos o tempo morto para dar um jeitinho na farta cabeleira ou retocar o risco nos olhos (não que use maquilhagem, mas estamos a generalizar) e sentimos aquele desconforto por estarmos a ser observados pelo senhor da Cais. Há um condutor que acena sorridente, há um que esboça um sorriso maroto, um que aponta para o nº de telefone marcado na viatura, um que canta e dança, um que lê o jornal, um que bebe um iogurte...

Como se não bastasse também nós acabamos por fitar o que se passa nos outros carros na impaciência do trânsito lento... entre as notícias na rádio, uma musiqueta e um cigarro lá vamos espreitando os vizinhos, que esquecidos de que a redoma que os rodeia é transparente, decidem coçar o nariz por dentro... são aquelas comichões incómodas e que não podem esperar até chegarmos à privacidade do lar e têm que ser tratadas no preciso momento em que dão sinal de vida... o espectáculo não é agradável e intriga- me... como é que há indivíduos capazes de fazer desaparecer o dedo dentro do nariz daquela maneira abrupta? Nem o Luís de Matos deve conseguir tamanha proeza!

Inconfidências de quem passa umas horitas no trânsito lisboeta!

1 comentário:

subarrios disse...

...e a ler o jornal, a fazer a barba (com máquina, claro), pôr a maquilhagem (porque não há tempo em casa), estudar para o exame da manhã, etc, etc...

o carro acaba por ser a nossa segunda casa (pelo menos passamos lá dentro mais tempo que no sofá!)


....nã.... não tenho saudades de andar no trânsito!